domingo, 26 de julho de 2009


Cada expectativa que eu arrancava só servia para compensar as expectativas que você arrancou de mim. E de tanto esperar por algo que eu nunca me conformei, de um jeito louco eu vi meus sonhos ressucitarem, como a surpresa de ver um morto se levantar do caixão. A noite já estava na metade quando li uma verdade que parecia se fantasiar de mentira, li a minha alegria voltar. Sorri pro espelho do armário, testei as molas do colchão, gritei sem som e mordi o travesseiro tentando conter a felicidade, mas eu queria mastigá-la, engolí-la e devorar tudo o que de ausente me deixou vazia por tanto tempo. Ah! Só que a vida é irônia, tem um sorriso tão sarcástico e se veste de palhaço para nos entreter até mesmo com o fim do nosso próprio amor. Porque dois dias que passaram, quarenta e oito horas, um par de voltas da Terra nela mesma, virou o meu mundo todo do avesso ou de ponta cabeça, invertendo os nossos papéis e adormecendo aos poucos o que se manteve tão desperto aqui dentro. Fiquei semanas brincando de bumerangue com as coisas que eu sentia, e algum poder seu, aliado ao vento sempre te trazia de volta pra mim. Mas de tanto jogar a céu aberto, alguém viu, passou por nós, no meio da nossa distância e pegou tudo o que eu sentia para si, no ar, em pleno vôo. Então me assustei e ainda me assusto porque o que eu senti por você não quer voltar. Eu perdi o que senti por você e eu sinto muito por isso. Confesso que deixei a porta destrancada para que tudo fugisse, confesso que fingi não ver tudo correr de mim. Não fui atrás. Em todo o caso, eu coloquei fogo em todos os planos que rabisquei no meu cérebro. Rasguei a nossa cama, as nossas despesas no supermercado, a pizza com duas cocas ao chão da sala do nosso apartamento. Apaguei nosso futuro verde e rosa. Depois ainda desenterrei de debaixo dos meus pés todo o sofrimento abarrotado no fundo da onde eu escondo o que quero esquecer, nunca te coloquei lá dentro e sei que mesmo se os nossos narizes tivessem olhos não conseguiriam ver logo embaixo deles que não somos da mesma espécie, que nossas mãos não se encaixam e que nossos pés jamais se encontrariam a noite. E esse mundinho dentro do meu quarto que você me ofereceu ficou tão menor e menos interessante depois que eu deixei a janela aberta. Com essa brisa de coragem que tomei no rosto, senti minhas pernas capazes de alcançar qualquer pessoa, em qualquer lugar.
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Autora: Maya

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Liberar e libertar-se!


Hoje, lá para as tantas da madrugada, resolvi checar os dois milhões de trânsitos astrológicos que encheram meu e-mail. Entre os conselhos de sempre, um trecho chamou atenção. “Quais lições que preciso aprender para me relacionar melhor? Liberar e libertar-se.”. Isso ficou na minha cabeça durante o resto da madruga. Comecei a pensar que, talvez, esse seja o segredo das coisas, entende? Eu preciso aprender a deixar as coisas livres. Digo, Coisas e pessoas.

É breguinha, mas eu acho aquele pensamento muito verdadeiro. Como é mesmo? “Se voltar é porque conquistei”. Chega uma hora que tentar já não adianta, que a energia se esgota e temos que abrir mão daquilo por qual tanto lutamos. Seja um amor, um objeto... Eu abri mão de inúmeras coisas que jamais achei que fosse capaz. Abri mão da minha casa, da minha independência, do meu emprego... Eu acho que estou aprendendo a arte do desapego. Não por cansaço, peso. Aprendi para ser uma pessoa melhor. É! Ando pensando tanto em mim esses dias (Morra de orgulho, Marcela!). Quando falo “desapego”, quero dizer que preciso colocar na cabeça que eu não tenho o poder de salvar tudo, conquistar tudo e que bater na mesma tecla quando não se tem retorno é autodestruição! Eu juro que não tem nenhuma indireta nesse texto. Estou falando de coração e o melhor de tudo, estou falando de mim.

Quando terminei de ler esse trânsito resolvi dar uma olhada no meu perfil. Escorpião com ascendente em Capricórnio. Dei de cara com isso: E, de fato, sua força de vontade é incrível, e você tem o raro poder de começar do zero quando, onde e como quiser. Tenderá a passar por mil mortes numa só vida, precisando começar tudo de novo, mas em todas as vezes terá muita destreza e espírito de luta.”. Resolvi parar depois de ler esse trecho. Eu sou fraca para me meter em certas situações, mas sou suficientemente forte para sair. Vamos lá! É época de encerrar ciclos e crescer. Liberar e libertar-se. O resto é consequência.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Eu já conquistei, é meu"

Foto: Thammis Leal

Meu humor anda muito extremista pro meu gosto. Quando não está no fundo do poço, está tão alto quanto o céu. Que saco!

Bem, hoje eu estou um amor de pessoa. Sem ironias, certo? Acordei me sentindo absurdamente bem. E o melhor de tudo é que não há qualquer motivo para isso. Não que eu precise de motivo para sorrir, mas uma paz de espírito me atingiu de tal maneira que estou até com medo do que virá. Estou naquilo de “Está bom demais para ser verdades”. Pensando melhor, acho que sei o motivo dessa paz. Eu, finalmente, resolvi agir. Não estou falando de outras pessoas, ok? Resolvi fazer aquela faxina interna que me prometi há séculos. Parece que tirei o mundo das costas. Recomendo!

Minha vida finalmente está voltando ao rumo que estabeleci no começo do ano. Voltei minha mente para coisas importantes (vestibular, mudança, emprego) e ando ocupadinha tentando organizar minha vida, afinal, em novembro entro para a casa dos 20, né? O tempo passa rápido e eu tenho muita coisa para fazer.


“Foi então que uma coisa muito legal aconteceu, meu amigo Marcelo, que nunca fala nada, resolveu disparar a matraca naquele jantar. Cansado de me ver tentando ser feliz com pessoas que simplesmente não me faziam feliz, ele me disse: você faz ao contrário, você cisma que alguém é a pessoa da sua vida e tenta fazer dar certo de qualquer maneira, sendo que o certo era alguém simplesmente dar certo de qualquer maneira e aí sim você fazer a pessoa ser da sua vida. Eu não preciso controlar a vida, meus hormônios, meu futuro, os outros, minha felicidade. Eu só preciso levar a vida, eu só preciso desfocar do sonho que me deixa míope e enxergar além, ou melhor: enxergar o que está na minha cara. Ver o quanto o resto todo já é perfeito e está lá, eu já conquistei, é meu.” (Tati Bernardi)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lhulhu!


Eu não sou a pessoa mais fofa do mundo, mas hoje senti uma necessidade de te dizer o quanto eu te amo, Luciana. Eu sempre te apresento como “Lhulhu, o amor da minha vida”, mas acho que nunca cheguei a te dizer isso. Nunca te disse muita coisa. Nunca disse o quanto eu fico feliz por saber que você entrou na minha para nunca mais sair. Nunca disse o quanto eu fico aliviada quando você sabe que eu fiz besteira e joga isso na minha cara sabendo que preciso disso. Nunca disse o quanto eu preciso te abraçar algumas vezes e tenho vergonha de dizer. Nunca disse que sempre penso em você quando tomo vinho.

Nunca disse que eu não me imagino mais sem você. Nunca disse que é muito bom saber que posso contar com você para me segurar ou tentar aliviar minhas quedas. Nunca disse como é bom ficar de bobeira com você no MSN. Nunca disse como acho divertido quando você diz que eu sou a pessoa mais manhosa do mundo e me liga chorando por causa da TPM. Nunca disse que chorei escondida quando você foi embora. Nunca disse que chorei de felicidade quando você voltou. Nunca te agradeci por ter ido na minha despedida mesmo sem me conhecer. Nunca agradeci por sempre ficar ao meu lado, por me entender, me defender. Nunca disse que você entende melhor que ninguém.

Nossa breve conversa hoje me provou mil coisinhas. Você é para sempre, Lhulhu. Obrigada pelas palavras de carinho, pelos conselhos. Obrigada pelos gritos e puxões de orelha. Obrigada pelo ombro amigo. Obrigada por segurar minha mão sempre. Obrigada por salvar meu dia. Obrigada por tudo que você já fez por mim. Conta sempre comigo. Sempre, sempre! Vou cuidar muito bem desse meu coraçãozinho, pode deixar. Amiga, eu te amo. Muito.



'Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos.'






Obs: Texto escrito dia 30/06/09, mas completamente atual.

terça-feira, 21 de julho de 2009


Chutando o amor com Snoopy!
Claro que eu (não) consigo. C L A R O (que não)!

(...) Quero dizer que você chegou e mudou tudo. Mudou as minhas voltas, meu humor, meu jeito que tratar desconhecidos, mudou muita coisa. Mas não me mudou. Continuo precisando saber onde estou pisando. Eu preciso disso para arriscar, entende? Não temos um contrato, mas combinamos que não seremos. Não sei bem o que, mas não seremos. Eu quero que você continue dando muitas voltas na minha vida, mas não as desfaça. Nunca mais. Relaxa! Não vou morrer de amores por você. Não agora. Posso colocar um post-it na sua carteira? Eu tento ser sua, quero ter razão quando digo que você é minha. Mas esbarro nos seus limites.





Obs: Último trecho de um texto enorme que, acredito plenamente, nunca será postando aqui.

segunda-feira, 20 de julho de 2009


Acho que quando eu digo que aprendi uma lição, quero dizer que aprendi a lidar com aquela pessoa e não com a situação em pauta. Deve ser isso mesmo. É isso ou sou a pessoa mais babaca do mundo. Prefiro ficar com a primeira opção.
Eu sempre me permito. Me permito sentir o que quiser, provar o que quiser, aprontar o que quiser e quase não me arrependo das coisas que eu faço ou do que digo, minha amiga. Você me conhece bem. Mas quero dizer que andei pesando e chegou a hora de mudar isso. Ok! Eu sei que você sempre me disse isso. Já passou da hora de mudar isso. Eu aprendi a lição, aprendi a lidar com as pessoas. Então por que eu ainda bato na mesma tecla? São tantas diretas e indiretas e eu ainda bato na mesma tecla. Já chega. Já deu. Cansei de ser aquela que faz tudo por duas pessoas. Ama por duas pessoas, cuida por duas pessoas, age por duas pessoas.
Amiga, eu não o que virá. Não sei para onde isso vai e, sinceramente, não quero saber. Vou deixar as coisas acontecerem em slow motion e naturalmente. É isso que eu mais quero: naturalidade. Tenho quase certeza que sei onde isso vai parar. Ou não. Não vou me dar ao luxo de passar meu dia pensando nisso. Fique feliz por isso. Eu não preciso ser assim. Está na hora de mudar, amiga. Eu não posso mudar tão rápido, por isso peço paciência. Obrigada pelo apoio e pelas verdades.
Sim, sei do meu desejo que ainda está aqui. Por quanto tempo é que ainda não sei. Espero que o suficiente.

sexta-feira, 3 de julho de 2009




Eu deveria cantar. Rolar de rir ou chorar, eu deveria, mas tinha desaprendido essas coisas. Talvez então pudesse acender uma vela, correr até a igreja da Consolação, rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria e uma Glória ao Pai, tudo que eu lembrava, depois enfiar algum trocado, se tivesse, e nos últimos meses nunca, na caixa de metal "Para as Almas do Purgatório". Agradecer, pedir luz, como nos tempos em que tinha fé.

Bons tempos aqueles, pensei. Acendi um cigarro. E não tomei nenhuma dessas atitudes, dramáticas como se em algum canto houvesse sempre uma câmera cinematográfica à minha espreita. Ou Deus. Sem juiz nem platéia, sem close nem zoom, fiquei ali parado no começo da tarde escaldante de fevereiro, olhando o telefone que acabara e desligar. Nem sequer fiz o sinal da cruz ou levantei os olhos para o céu. O mínimo, suponho, que um sujeito tem a obrigação de fazer nesses casos, mesmo sem nenhuma fé, como se reagisse a uma espécie de reflexo condicionado místico.
Acontecera um milagre. Um milagre à toa, mas básico para quem, como eu, não tinha pais ricos, dinheiro aplicado, imóveis nem herança e apenas tentava viver sozinho numa cidade infernal como aquela que trepidava lá fora, além da janela ainda fechada do apartamento. nada muito sensacional, tipo recuperar de súbito a visão ou erguer-se da cadeira de rodas com o semblante beatificado e a leveza de quem pisa sobre as águas. Embora a miopia ficasse cada vez mais aguda e os joelhos tremessem com freqüência, não sabia se fome crônica ou pura tristeza, meus olhos e pernas ainda funcionavam razoavelmente. Outros órgãos, verdade, bem menos. Toquei o pescoço. E o cérebro, por exemplo.

Já chega, disse para mim mesmo, parado nu no meio da penumbra gosmenta do meio-dia. Pense nesse milagre, homem. Singelo, quase insignificante na sua simplicidade, o pequeno milagre capaz de trazer alguma paz àquela série de solavancos sem rumo nem ritmo que eu, com certa complacência e nenhuma originalidade, estava habituado a chamar de minha vida, tinha um nome. Chamava-se - um emprego.

Olhei minha cara no velho espelho riscado, as marcas que eu nem sabia mais se pertenciam ao vidro ou à pele, cumprimentei com uma curvatura de cabeça: "Muito bem, parabéns. Você agora tem um emprego". Mas não conseguia sentir nenhum calafrio de dignidade, nenhum frêmito de esperança que pudesse iluminar meus olhos vermelhos ou empurrar para fora meu fatigado peito onde - não queria lembrar, mas lembrei - há menos de uma semana descobrira o primeiro fio de cabelo branco. Suspirei.

Verdade que só um completo idiota ou alguém totalmente inexperiente sentiria, nem digo êxtase, mas qualquer espécie de animação por ter conseguido um trabalhinho de repórter no Diário da Cidade, talvez o pior jornal do mundo. Acho que ainda não tinha me transformado num idiota, não completamente pelo menos. E quanto à experiência - bem, aquela cara marcada, ainda inchada de sono, com barba de três dias, me observando por entre os risos do espelho, parecia tê-la de sobra. Tudo bem, disse a cara no espelho, já que você prefere mesmo confundir experiência com devastação... Suspirei outra vez. Não, querida cara, encher laudas e laudas nas máquinas de escrever daquele pasquim pré-informático certamente não era motivo para dar pulinhos.

Mas eu tinha que ficar contente. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar. Afinal, aquele podia ser o primeiro passo para emergir do pântano de depressão e autopiedade onde refocilava há quase um ano. Gostei tanto da expressão pântano-de-depressão-&-etc. que quase procurei papel para anotá-la. Perdera o vício paranóico de imaginar estar sendo sempre filmado ou avaliado por um deus de olhos multifacetados, como os das moscas, mas não o de estar sendo escrito. Se fosse bailarino, talvez imaginasse estar constantemente, em qualquer movimento, sendo esculpido? Ah, cada gesto, uma verdadeira apologia estética da forma pura. Era engraçado. E bastante esquizofrênico. mas de repente o real tinha-se tornado bem menos retórico.

"Você começa hoje, cara" - dissera Castilhos no telefone. Com aquela voz no fundo da qual, para manter o velho hábito subliterário, eu poderia localizar algo que chamaria de áspera-ternura-cúmplice, mas na verdade não passava de excesso de nicotina e saco cheio: "e vê se não me faz cagada logo no primeiro dia, oquêi? Garanti pros homens que você é da pesada". Espantoso: na noite anterior eu fora dormir como um jornalista desempregado, endividado, amargo, solitário e desiludido de quase quarenta anos para acordar no dia seguinte, magicamente, com aquela voz do passado me comunicando pelo telefone que eu era - da pesada.

A partir de hoje, uma vida feita de fatos. Ação, movimento, dinamismo. A claquete bate. Deus vira mais uma página de seu infinito, chatíssimo roteiro. O escultor tira outra lasca do mármore. Coloquei água para fazer café, cogumelos branquicentos cresciam na umidade da cozinha. Simpáticos, até meio bucólicos. Liguei o rádio, entrei no chuveiro. O apartamento era tão pequeno que a gente podia fazer todas essas coisas praticamente ao mesmo tempo. Com uma das mãos, ensaboava a cabeça, com a outra controlava o volume do rádio na sala, enquanto estendia uma das pernas para apagar o fogo quando a água fervesse.

- Eia! Avante! Sus! - gritei embaixo da água gelada. Ai - pi - ai - ô, Silver

Enquanto ouvi no rádio uma música que parecia conhecida. Dizia qualquer coisa como "a realidade não importa, o que importa é a ilusão", no que eu concordava plenamente. Pelo menos nos últimos meses, não me acontecera nada além de fantasias. Mas a música que ressoava em algum porão da memória era antiga como um bolero, um fox, e o que saía do rádio agora era um desses rocks com baixo elétrico desesperados, percussão envenenada e sintetizadores histéricos. A voz da cantora lembrava vidro moído num liquidificador. De qualquer forma, pensei, a letra está certa. E todas as coisas que eu lembrava, ou achava que lembrava, porque de tanto lembrar delas acabara por transformá-las em mera - e péssima - literatura, já não importavam mais. O resto do último sabonete escorregou entre meus dedos. Era tão pequeno que desapareceu pelo ralo.


( Vagina Dentada - Caio Fernando Abreu )





Obs: Eu não esqueci o blog, certo? É que todos os textos que escrevi esses dias são pessoais demais para colocar aqui. Coisinhas que a gente escreve quando não quer falar sobre o assunto. Coisinhas que a gente escreve e não quer compartilhar. Vou tentar atualizar com frenquência. Prometo!